Dia 1: a ligação
A ligação mais esperada! Depois de anos de coração acelerando a cada ligação de telemarketing, enfim, a ligação. Mas como disse neste post, essa não foi a primeira vez que recebemos a ligação, então talvez isso tenha tirado um pouco da empolgação total, porque me deixou com um pé atrás até o último momento, como vou explicar ao longo deste relato, embora desta vez estivesse tudo dentro do perfil escolhido por nós.
O dia da ligação foi o último dia útil antes do recesso do trabalho, tanto meu quanto do meu marido, numa sexta-feira de dezembro. Meu marido estava na festa de confraternização dele e eu, como não fui na minha, estava em casa me preparando pra sair e comprar algumas coisas para o Natal, que passaríamos na minha sogra que mora em outra cidade. Eis que meu celular toca, era meu marido que havia saído há pouco tempo, ele já com a voz claramente emocionada, dando voltas para encontrar o melhor jeito de me falar, fiquei tentando decifrar se era notícia boa ou ruim, até passou pela minha cabeça ser notícias da vara, porque o celular dele vem cadastrado antes do meu e é ele que costuma receber as ligações de lá, mas a gente tenta controlar a expectativa. Nem cheguei a comentar aqui, mas no ano de 2022 tivemos que renovar a habilitação novamente e foi um processo bem chato que acabou nos tirando da fila porque a validade acabou expirando no meio do caminho. Voltamos para a fila em novembro, então já estava completamente desacreditada que aconteceria ainda no ano passado, embora estivéssemos numa posição bem próxima: sexto lugar.
Mas aí meu marido deu a notícia: a cegonha aterrissou. A psicóloga da Vara falou que havia chegado nossa vez, uma menina, saudável, com menos de um mês de vida. Ela então falou que íamos buscá-la na segunda e que teríamos o final de semana para adquirir o básico do enxoval para receber uma bebê de poucos dias de nascida. E enviou uma foto. Meu Deus! Isso realmente estava acontecendo! Eu chorei, eu ri, me preocupei e chorei de novo. Neste dia, resgatei a lista de enxoval de emergência que postei aqui e fizemos um plano pra conseguir comprar tudo durante o sábado e domingo.
Dias 2 e 3: vamos às compras!
Pera! Isso realmente está acontecendo? Sem muito tempo pra pensar. Só sei que no meio a correria, entre um sapatinho e uma mamadeira, os olhos se enchiam d´água. Mas aí quando entramos em contato com a psicóloga para tirar algumas dúvidas, ela falou que achava que havia a possibilidade de não a levarmos pra casa na segunda, porque o juiz teria que autorizar. E então, na segunda, teríamos de ir ainda na vara e depois no abrigo e só depois disso, seria encaminhado ao juiz. E segunda seria o último dia antes do recesso do judiciário.
E aí bateu um certo medo. No dia anterior parecia tão certo, porque não nos foi dito isso antes? Mas ainda tínhamos que deixar tudo pronto para caso ela viesse na segunda mesmo. E aí os sentimentos começaram a se misturar. Eu com trauma da última vez e com minha cabeça ansiosa, já comecei a tentar diminuir minhas expectativas, mas como fazer isso agora? Mas bem, conseguimos deixar a casa equipada com o básico para recebê-la, menos a banheira.
Dia 4: o encontro
Depois do final de semana mais longo, mais louco e mais esperado da minha vida, chegou o dia de conhecê-la. Eu ainda com medo de algo dar errado, meu marido, a pessoa mais de boa da vida, fomos à reunião com a equipe técnica conhecer a história dela. Chegando lá, ao sermos recebidos, um grande sentimento de alívio, à princípio, porque realmente havia chegado nossa vez. e aí ouvimos a história, uma história um pouco triste, mas adoção é assim mesmo, eu já sabia, mas sentir na pele é diferente (em outro post me estenderei sobre isso) e então a assistente social já manda a real: “vocês não vão levá-la hoje, talvez na terça ou na quarta, mas é muito difícil que o juiz autorize hoje.” Daí bateu uma certa insegurança, mas pelo menos iríamos conhecê-la.
Chegando no abrigo, fomos super bem recepcionados. Depois de uma breve conversa com a equipe do abrigo, chegara a hora. Meu Deus! Isso está acontecendo mesmo! Depois de alguns minutos que pareceram horas, chegou ela, na sua mantinha rosa, com laço na cabeça e com os olhos arregalados como se prestasse muita atenção no que estava acontecendo. Eu nunca quis romantizar a adoção e nem o encontro, mas foi tão lindo! Eu fui a primeira a pegá-la no colo, sem jeito nenhum com recém-nascido, segurei ela sentada com medo de fazer besteira. hahaha. Depois foi a vez do meu marido, com um pouco mais de desenvoltura e muito mais coragem de segurá-la e que cena mais linda de se ver também: meu companheiro de tanta luta em um momento de mais plena felicidade.
E foi isso! Depois de seis longos, sofridos, confusos anos, enfim, estava ela nos meus braços.
Dia 5: Convivência
Acho que a maioria das pessoas por aqui já sabem que o estágio de convivência faz parte do processo, mas existem casos em que isso não é necessário. À princípio, nosso caso não iria precisar, como falei ai em cima. Mas acabou que o juiz não autorizou no mesmo dia. E então nos restou esperar, mas não dava mais para ficarmos longe da nossa filha por muito tempo. rsrs. Então fomos ao abrigo passar o dia com ela.
Na verdade, no dia anterior, depois de conhecê-la, já ficamos com ela até o final do dia. E aí nesse dia voltamos pra ficar com ela. No abrigo, aprendemos a trocar fralda, a dar mamadeira e conhecemos um pouco da rotina com ela. Foi até legal ter esse contato supervisionado, sabe? A gente não tinha jeito com recém nascido rsrs. Mas o problema é que a gente fica ansiosa demais pra levar pra casa. E deixá-la no final do dia foi bem difícil. Bem difícil mesmo. Mas voltaríamos no dia seguinte e até sair a guarda.
Porém, já de noite, recebemos uma mensagem da psicóloga da Vara dizendo que o juiz havia autorizado e no dia seguinte iríamos trazê-la pra casa!!!
Dia 6: Enfim, em casa
Mais um dia de muita emoção! Mas dessa vez era só felicidade, nenhuma preocupação, nenhuma insegurança ou incerteza. Ela estava em casa!
Falando agora, parece que foi tudo rápido e que não havia espaço para preocupação. Mas viver esses momentos tão intensos faz a gente sentir o tempo passar diferente. E embora a gente já tivesse passado mais de seis anos esperando, e que, por isso, seis dias possam parecer ínfimos, a verdade é que durante seis anos nós esperamos nos tornar pais, esperamos um filho idealizado e, durante os seis dias, esperamos a nossa filha, com nome, com os olhos castanhos, com covinha na bochecha, com pouco cabelo, que chora quando deixa a chupeta cair, enfim, esse indivíduo único e especial.